quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Meio Ambiente agradece

Serviço: Meio Ambiente
Carros, carros e mais carros
O setor de transportes é responsável por 60% do CO2 emitido em São Paulo, e por 46%, no Rio. E o grande vilão é o veículo particular. Mas é possível reverter esse quadro; saiba como a seguir.

Na maior metrópole do país, o ir e vir das pessoas, junto do ir e vir das coisas que elas necessitam - como alimentos, produtos de higiene e bens de consumo em geral -, é responsável pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Essas emissões correspondem a nada menos que 60% de todos os 15,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) geradas anualmente em São Paulo, segundo as contas do Inventário de Emissões do município, publicado em 2005.

De lá para cá passaram-se seis anos, e hoje os números devem ser bem piores, depois de tanto tempo de incentivo ao transporte particular e com o número de veículos deste tipo atualmente nas ruas da capital paulista (cerca de 6 milhões). A gasolina automotiva, dentro da categoria Transportes, é responsável por 43% das emissões de GEE, sendo que apenas 30% das viagens são feitas em veículos particulares.

O município do Rio de Janeiro, que também tem seu inventário, contabilizou 6 milhões de toneladas de CO2 emitidas pelo setor de transportes em 2005 (46% do total). Mas até o ano que vem a cidade se comprometeu a reduzir 8% de suas emissões - em relação ao que foi emitido em 2005 -, de acordo com o estipulado pela Lei Municipal no 5.248/11. Em São Paulo, a meta é chegar a 30% de redução - também em relação a 2005 -, de acordo com a Lei Municipal no 14.933/09.

"Em transporte, a principal medida proposta para alcançar as metas no Rio de Janeiro são os BRTs [Bus Rapid Transit]", afirma o professor Emílio La Rovere, coordenador do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centroclima), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os BRTs são ônibus rápidos que circulam em corredores próprios, modelo adotado em Curitiba (PR) e Bogotá (Colômbia). A prefeitura também planeja construir 280 km de ciclovias, para incentivar o uso de bicicletas.

Já São Paulo planeja ter, em 2018, toda a sua frota composta por ônibus movidos a combustível mais limpo - como biodiesel ou etanol. No último mês de maio, dez veículos movidos a etanol foram colocados para rodar em três linhas do município. Outros 40 seriam entregues até o fim de junho.

Segundo Emílio La Rovere, entretanto, vale alertar que o biodiesel nem sempre é menos danoso do ponto de vista das mudanças climáticas. "Se sua matéria-prima for a soja, como é o caso da maior parte do biodiesel brasileiro, o ganho em relação ao diesel de petróleo é pequeno", informa. Isso porque a produção da oleaginosa é intensiva em consumo de óleo diesel, que também emite dióxido de carbono. Já os óleos de mamona ou dendê e o etanol são positivos, se levadas em conta apenas as emissões de GEE. Só que é preciso atentar para a pressão das culturas sobre as florestas e para o mau tratamento que muitos trabalhadores do setor ainda sofrem. Portanto, o mais importante é racionalizar o uso de qualquer combustível.


Vaga Viva
Dentro da campanha Clima e Consumo, realizada em parceria com o Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz -, o Idec tem promovido diversos eventos de informação e sensibilização. Em 13 de maio, data dedicada à abolição da escravidão no Brasil e também ao automóvel, transformamos o espaço ocupado por três carros em uma "vaga viva" no bairro de Perdizes, em São Paulo (SP). Trata-se de usar o espaço público para fins mais culturais, divertidos e - por que não? - nobres. Afinal, gente é mais importante que carro.

Para tanto, tivemos um café da manhã "bioagradável" (com frutas e sem produtos que têm embalagens descartáveis), um momento de relaxamento e música com a Organização Brahma Kumaris e uma apresentação do artista múltiplo Peri Pane, um dos apresentadores do programa Ecoprático da TV Cultura, etc. Além disso, houve discussões ao longo de todo o dia sobre a mobilidade na capital paulista. "Foi uma provocação e um convite às pessoas para que vislumbrassem o espaço de convivência que ganharíamos se tantos espaços públicos não fossem destinados aos automóveis", explica Adriana Charoux, pesquisadora do Idec.







Clique na imagem para ampliar PÚBLICO X PRIVADO

No Brasil, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em janeiro, o conforto, a rapidez para chegar ao destino, a segurança, o custo e a acessibilidade são os principais fatores que determinam a escolha de um tipo de transporte por parte do usuário. Essa mesma pesquisa revelou que o transporte público é o mais utilizado pela população (44%). Em seguida, vem o carro (23,8%), a moto (12,6%) e o deslocamento a pé (12,3%). A bicicleta aparece em último, com 7%. Entretanto, um estudo mais recente do órgão, divulgado no fim de maio, revelou que o uso do transporte coletivo vem diminuindo. Se em 1977, 68% dos deslocamentos motorizados eram feitos nessa modalidade, em 2005 o índice baixou para 51%.

Ao mesmo tempo, os maiores investimentos públicos no setor são destinados ao transporte particular. "Todos os benefícios vão somente para o transporte individual, como o subsídio à venda de carros ou de gasolina. Já o óleo diesel não recebe nenhum incentivo", afirma o arquiteto e urbanista Marcos Pimentel Bicalho, superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).

Além de emitir muito mais GEE por passageiro (veja infográfico à página 26), o transporte particular, segundo a ANTP, ocupa mais espaço, consome mais energia e gera mais poluentes que o coletivo. O carro ocupa 21 m2, levando-se em conta o tamanho do veículo e o espaço necessário para a sua circulação. Já a moto ocupa 8 m2 e o ônibus, 54 m2, mas leva bem mais gente, em média de 30 a 40 passageiros.

Deixar o transporte particular de lado, ao menos parcialmente, também pode melhorar o relacionamento com a cidade. "Quando eu andava de carro, me protegia do espaço público. Havia sempre uma sensação de 'perigo lá fora'. Agora eu ocupo esse espaço. E é só assim que a gente resolve cuidar dele", conta a jornalista Natália Garcia. Criadora do projeto Cidades para Pessoas www.cidadesparapessoas.com.br, Natália busca respostas para a questão "como tornar uma cidade melhor para seus moradores?". Para consegui-las ela visitará 12 cidades - começando por Curitiba (PR) e passando por metrópoles europeias e norte-americanas - que apresentem boas soluções em transporte. Segundo ela, em Copenhague, por exemplo, calcula- se que a cidade ganhe cerca de R$ 3 por quilômetro a cada cidadão que decide pedalar. "A pessoa fica mais saudável e requer menos gastos por parte da saúde pública. Além disso, afeta menos a malha viária", diz.

Saiba mais



  • Matéria "Convivência já", publicada em julho de 2009 na REVISTA DO IDEC (edição no 134)




  • Matéria "Economia de lixo", publicada em abril de 2011 na REVISTA DO IDEC (edição no 153)

    Faça a sua parte
    Ande a pé e de bicicleta. Além de serem as melhores maneiras de contribuir para a redução das emissões provenientes do transporte, fazem bem à saúde.

    - Descubra onde há "estacionamentos" para bicicleta e ciclovias no mapa colaborativo do Google http://goo.gl/rycts.

    - Se você é um ciclista urbano, visite o site Vá de Bike http://goo.gl/241Jp.

    - Desde maio, a prefeitura de São Paulo está criando "zonas de proteção ao pedestre", a fim de reduzir atropelamentos. Fiscalize esse projeto, que inclui reforço na sinalização e recrutamento de agentes para garantir a travessia segura nas ruas www.preferenciaavida.com.br.

    - Quando estiver dirigindo, lembre-se de que o pedestre e o ciclista devem ser respeitados, de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito.

    - Experimente andar de ônibus pelo menos uma vez por semana. Consulte as linhas disponíveis no site da SPTrans www.sptrans.com.br ou pelo telefone 156.

    - Se a melhor opção de transporte coletivo para você for o trem ou o metrô, conheça o mapa da rede no site da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) http://goo.gl/nZEg2 ou pelos telefones 0800-770-7722 (trem) e 0800-055-0121 (metrô).

    - Torne-se adepto da carona solidária, que pode ser praticada com vizinhos, colegas de faculdade ou do trabalho, e até com desconhecidos, por meio do site www.caronasolidaria.com.

    - Opte por veículos pequenos. Segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), uma viagem de 500 km com um carro pequeno movido a gasolina emite cerca de 68 kg de CO2. Se for um carro grande, o volume sobe para 108 kg.

    - Se a compra do veículo for inevitável, cobre a etiqueta de eficiência energética da montadora e/ou concessionária. Assim, você pode escolher o modelo com base no nível de consumo de combustível, que reflete diretamente sobre as emissões de dióxido de carbono. Você pode conferir a etiqueta - que não é obrigatória - em http://goo.gl/RB3XW.

    - Compre produtos perto de sua casa ou do trabalho. No Estado de São Paulo, o transporte de mercadorias responde por 65% das emissões de poluentes oriundas do diesel.




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