sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Força Extra Contra Risco

Força extra contra o risco



Nada melhor do que conquistar entre os 30 e os 40 anos de idade um bom salário. Com a conta recheada todo mês com R$ 30 mil, o apartamento não precisa mais ser pequeno nem mal decorado. As viagens de férias podem ser feitas em grande estilo. E é o fim da preocupação com a conta do jantar: dá para comer nos restaurantes da moda e ainda pagar uma excelente escola para os filhos. Mas, aos poucos, os milhares de brasileiros que ascenderam à classe A se dão conta de que a sensação de estar com a vida ganha em razão dos seus bons salários não passa disso: uma sensação.

Num estalo de consciência ou diante de algum episódio que a vida impõe, eles percebem que, caso percam o emprego ou sofram algum acidente, não conseguirão mais arcar com o padrão de vida sofisticado com o qual já se acostumaram. Afinal, salário presente não é garantia de renda futura. Para alguns, a opção para se precaver de uma situação dessas é contratar um seguro de vida - mesmo quando já estão segurados pela apólice coletiva da empresa onde trabalham.


Apólice personalizada: André Saretta fez um seguro complementar para seu plano de ter filhos e garantir uma vida tranquila para a família

É o caso do executivo André Saretta, superintendente de finanças da CPFL Renováveis. Depois que um amigo lhe falou da possiblidade de personalizar um novo seguro de vida para complementar o que já tinha, Saretta não teve dúvidas. Estudou a constituição de uma apólice adequada para o seu plano de ter filhos e garantir uma vida tranquila para a sua família. "Fiz o planejamento observando um horizonte de 15 a 20 anos", afirma o executivo de 32 anos.

Alguns números do setor sinalizam a maior disposição de pessoas como Saretta para desembolsar alguns milhares de reais por ano por seguros de vida individuais. A receita com o produto cresceu 30% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). O valor arrecadado pelas seguradoras nesse segmento ainda é pequeno. Não chega a R$ 450 milhões, pouco menos de 10% do mercado total de seguros de vida (individual mais coletivo). Mas é um dos indicadores que explicam o aumento na oferta de apólices desenhadas para as classes A e B.

Em 2012, pelo menos uma seguradora ingressou no ramo dos seguros milionários - a Seguradora X - e outra aumentou o capital segurado máximo - a Prudential (veja os valores na tabela ao lado). No ano passado, outras três seguradoras colocaram em suas prateleiras apólices individuais de R$ 1 milhão ou mais: a Seguradora Y e as seguradoras dos bancos K e Estatal V.

"Há um crescimento dos tíquetes médios. Acredito que a maior parte está na faixa de até R$ 1 milhão", afirma Bento Zanzini, diretor de seguros de pessoas do grupo segurador Banco Estatal W que oferece apólices de até R$ 10 milhões. Zanzini afirma que, entre os clientes, é muito comum encontrar jovens que estão no período de formação de seu patrimônio. Ganham bem e proporcionam um padrão de vida elevado para as suas famílias, mas ainda não têm um portfólio de bens e investimentos que garanta a independência financeira ou uma aposentadoria antecipada.

Para escolher o valor da apólice, o segurado deve levar uma série de fatores em consideração. O primeiro é o tamanho do compromisso que quer assumir. Para contratar um seguro de R$ 2 milhões, por exemplo, o desembolso pode ficar entre R$ 1.000 e R$ 1.300 por mês . Algumas seguradoras permitem o pagamento do prêmio (o valor desembolsado pelo segurado) apenas uma vez por ano. A possibilidade pode ser atraente para os profissionais que, além do 13º salário, recebem um bônus anual.

Outro fator importante a ser levado em conta é o que a pessoa quer garantir com o seguro de vida. Para quem já tem um patrimônio bem gordinho, o seguro pode proporcionar os recursos necessários para a sucessão dos bens e direitos entre os herdeiros. Também pode significar a manutenção do padrão de vida da família por um determinado tempo ou a garantia de recursos para pagar a escola dos filhos. Dirceu Braga, superintendente na área de Soluções Individuais da Seguradora Y, calcula que uma família gasta cerca de R$ 1 milhão na educação de cada filho. Se o segurado tem dois filhos pequenos e sonha em proporcionar uma educação de nível internacional até a graduação dos herdeiros, é bom pensar em uma apólice de R$ 4 milhões.

Para definir o valor, Braga sugere uma conta rápida. Basta multiplicar a renda bruta anual do segurado por um indicador que vai diminuindo de acordo com a idade. A lógica é a seguinte: quanto maior o tempo de vida do segurado e de sua família, maior deve ser o múltiplo e, portanto, maior o capital segurado. "Quem tem 35 anos, por exemplo, pode contratar um seguro que seja 20 vezes a sua renda. Quem tem 70 anos pode contratar cinco vezes", diz.

Outra conta que pode ser feita é em quanto tempo a família conseguiria se reorganizar financeiramente depois da morte do principal provedor. "Normalmente, as pessoas respondem cinco anos", diz Adriano Gonçalves Martins, diretor no Banco Privado E.

Martins e Braga ressaltam que as contas que sugerem são apenas um ponto de partida para a definição da apólice. É preciso avaliar a real necessidade da família, como o custo de manutenção da residência principal, da casa de campo ou de praia, o custo tributário de transmissão dos bens imóveis, a liquidez do patrimônio. Também é importante avaliar se o segurado já conta com um seguro de vida pago pela empresa. Caso tenha, pode ser interessante contratar uma apólice individual como um complemento.

Benefícios em vida

Para atender a necessidades próprias e de seus beneficiários, o segurado pode optar ainda pela contratação de coberturas pagas em vida. "Normalmente, as pessoas só pensam na morte quando falam em seguro de vida. Mas existe uma série de benefícios que a seguradora pode pagar para o segurado ainda em vida", diz Thereza Moreno, diretora Seguradora A.

Tratamento de ponta: o contratante pode optar por receber o dinheiro do seguro em caso de diagnóstico de doença grave, diz Thereza Moreno, da Seguradora A

Uma cobertura oferecida por algumas seguradoras é a diária por internação hospitalar ou por invalidez temporária. O benefício é interessante para os profissionais autônomos, que se veem sem remuneração quando impossibilitados de trabalhar, ou mesmo para funcionários com carteira assinada que ficam afastados da empresa por mais de 15 dias. Nesse caso, as seguradoras sugerem que a diária complemente o benefício recebido do INSS pelo segurado. Na Seguradora A, especializada em seguros individuais e no segmento de alta renda, a diária por internação hospitalar vai até R$ 1.500.

Muitas seguradoras também oferecem a opção de pagar o segurado caso ele seja diagnosticado com uma doença grave. O pagamento é realizado de diferentes formas pelas companhias. Pode ser uma cobertura extra, contratada com um valor específico, ou a antecipação de 100% do capital segurado, o que encerra a apólice. "Em muitos casos, o valor é utilizado no pagamento de tratamentos médicos de ponta, inclusive no exterior", afirma Thereza.

Neste ano, o jovem André Saretta conseguiu uma cobertura por doença grave. Ele foi diagnosticado com um câncer de tireoide e acionou o seguro. "Foi uma grata surpresa descobrir que existe esse tipo de cobertura. Acredito que o brasileiro não está muito acostumado a contratar seguros estruturados como o que eu fiz", afirma. Ele aproveitou a cobertura que recebeu para pagar parte das despesas médicas de seu tratamento. "Posso dizer que me considero uma pessoa de sorte por ter uma rede de relacionamentos que me levou a conhecer esse tipo de cobertura", diz o executivo, que assinou o contrato com a seguradora em 2011.

Outra opção para o segurado é contratar um produto que mistura a acumulação de recursos, como um fundo de investimento, e um seguro de vida por um determinado prazo. É o chamado seguro dotal, desenhado para mitigar duas preocupações comuns: a de morrer muito jovem e a de viver muito tempo. Uma parte do prêmio pago nesse tipo de seguro vai para a reserva financeira. A outra parte segue para custear o risco em caso de o segurado morrer dentro daquele período. Ao fim do prazo do contrato, o cliente resgata o valor combinado. "É um produto que oferece cobertura por morte e por sobrevivência. Na Seguradora R, o capital acumulado pelo cliente é rentabilizado por, pelo menos, 3% ao ano mais a inflação", afirma Maristela Gorayb, diretora de Previdência e Vida Resgatável da Seguradora R.

Este tipo de seguro é interessante para as pessoas que desejam reaver o dinheiro desembolsado para a seguradora e, ao mesmo tempo, garantir o custeio de algum bem ou serviço caso morram cedo. Um motivo para contratar o seguro dotal pode ser o pagamento dos estudos até os 24 anos dos filhos. Caso o cliente morra antes, a companhia paga o capital segurado. Do contrário, o segurado recebe o valor contratado na data estabelecida.

Nesse tipo de produto, o cliente tem o direito de desistir do contrato e solicitar o resgate antecipado. Para isso, é preciso esperar uma carência de 24 meses e respeitar algumas regras de permanência. Quanto mais tempo a pessoa contribui, maior será a parcela destinada ao risco de morte que ela terá direito de resgatar. Na Seguradora R, o cliente do seguro Bién Vivir tem a opção de resgatar tudo o que pagou - tanto a parte destinada para a acumulação de poupança quanto a parcela destinada ao risco de morte - a partir do décimo ano de contribuição.

Como contratar

O custo do seguro varia de acordo com a idade, as condições de saúde, o tipo de trabalho e os hábitos do segurado. O prêmio pago por uma pessoa fumante e que salta de paraquedas será, em geral, maior que o de uma não fumante e iogue. Nas seguradoras que oferecem apólices milionárias, a avaliação de risco é mais profunda e é feita individualmente. "Acreditamos que o produto de alta renda merece um serviço diferenciado", afirma Bernardo Dieckmann, diretor de produtos de vida da Icatu Seguros. Ele explica que, normalmente, o cliente preenche uma longa declaração de saúde e recebe a avaliação de risco de acordo com a média do mercado. "É um processo demorado. Quando lançamos o seguro para a alta renda, iniciamos também a telesubscrição: o segurado é entrevistado por profissionais da saúde por telefone", afirma Dieckmann.

Com a análise individual e minuciosa do perfil financeiro e da saúde do cliente, as seguradoras conseguem oferecer um prêmio mais adequado ao real risco do segurado. Para Braga, da Seguradora Y , a avaliação individualizada é um dos grandes atrativos no mercado de seguros de alta renda. "O cliente entende que, a partir da análise individualizada, cobramos um prêmio justo", afirma.

Mas mesmo diante de um valor que cabe no bolso, o candidato a um seguro milionário deve se perguntar se ele precisa, de fato, de tudo aquilo. Saber que vai deixar R$ 10 milhões para os beneficiários quando morrer pode ser uma boa notícia. Mas, do ponto de vista financeiro, pode não fazer muito sentido se a família já tem um portfólio de investimento sofisticado em termos de liquidez e de sucessão patrimonial. "Se uma família tem a maior parte do seu patrimônio em imóveis, vai faltar liquidez, inclusive, para movimentar o inventário", afirma Martins, do Seguradora R. Ele lembra que o seguro de vida é pago diretamente para os beneficiários em pouco tempo, assim como o VGBL, o produto da previdência privada recomendado para fins de sucessão patrimonial. Pela lei, deve ser pago em até 30 dias. Na prática, as seguradoras levam até dez dias úteis. "A diferença entre o plano de previdência e o seguro de vida é a questão do prazo de acumulação. O seguro de vida cumpre o papel de assumir o risco de uma fatalidade. O VGBL tem como finalidade acumular os recursos", afirma Martins.

Para Helio Novaes, presidente da corretora XX, a contratação de um seguro de vida de alto valor depende da situação dos bens e da organização da família do segurado. Ele pode querer proteger o padrão de vida da família de alguma dívida em andamento ou, simplesmente, garantir o pagamento de um advogado e dos custos do inventário. "É comum vermos as famílias vendendo às pressas bens e apartamentos para conseguir se manter. Com o dinheiro do seguro, ganha-se mais tempo para todos se recuperarem", diz Novaes.

Fonte: Valor Online

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